sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Naquela mesa - Nelson Goncalves

"Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre, o que eh viver melhor.
Naquela mesa ele contava historias, que hoje na memoria, eu guardo e sei de cor.
Naquela mesa ele juntava a gente e contava contente o que fez de manha e nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fa.
Eu nao sabia que doia tanto uma mesa num canto, uma casa, e um jardim, se eu soubesse quanto doi a vida, essa dor tao doida nao doia assim. Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguem mais fala no seu bandolim.
Naquela mesa ta faltando ele e a saudade dele ta doendo em mim..."


Amanha serao 30 dias sem vc, pai, e nenhum sem que eu pensasse em voce, sem que eu sentisse a sua falta sufocando o meu peito. Voce nao imagina o quanto eu questionei tudo ate aqui e venho questionando. Mas nao importa a que conclusao eu chegue, o tempo nao volta e eu nao posso mudar nada.
Voce foi uma das coisas mais lindas que aconteceram na minha vida, sabia? E nos tivemos muita sorte de te-lo como pai.
Eu te vi ou ouvi chegar tantas vezes. Voce abria a porta e colocava a chave na estante ao lado e eu ainda posso ouvir o tilintar das chaves. No entanto, velho pai, eu nao te vi partir. Penso que foi melhor, porque eu nao saberia como faze-lo.
Desculpe a minha fraqueza, mas hoje eu choro. 
Acho mesmo que nos encontramos naquele sonho da semana passada. Voce veio me ver e disse que entao poderia ir em paz. Eu pude segurar pela ultima vez nas sua maos e fiquei com aquela sensacao por muitos dias.
Me perdoa. Eu nao pude ir.
Assim como fiz com a minha mae, eu ainda nao me despedi de voce. Preciso terminar a carta e entao, sozinha, vou pra algum lugar, leio em voz alta, falo com voce e entao, terei a sensacao de que nos despedimos. Mas eu ainda nao pude. Me sentirei mais leve depois disso.
O vazio, pai, ah... esse nao sai daqui de dentro. Parece um buraco mesmo, oco, fundo, cheio de ecos.

Acredite em mim mais uma vez. Eu vou conseguir.

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